Viajar é a melhor maneira de encontrar beleza no mundo. Quando passeias por ruas desconhecidas e absorves cada aspeto de um ambiente que normalmente te é estranho, enches a tua cabeça e o teu espírito com memórias que te lembram que a vida vale a pena ser vivida e que a felicidade pode ser encontrada nos detalhes mais pequenos e insignificantes – no sorriso de um estranho, no brilho do sol ou no som de risos e conversas em qualquer praça movimentada de uma terra longínqua. Contudo, quando digo que viajar nos melhora enquanto pessoas e seres humanos, significa também que, ao longo de múltiplas viagens, seremos confrontados com momentos de adversidade, incompreensão e tristeza que irão para sempre marcar-nos e moldar diferentes traços da nossa personalidade. Para mim, um desses momentos teve lugar quando decidimos visitar Auschwitz, o local mais aterrador alguma vez considerado Património da Humanidade pela UNESCO, e uma figura central na chamada “Solução Final”. Ainda que visitar um local onde morreram mais de 1 milhão de seres humanos possa ser difícil de digerir, sabíamos que visitar Auschwitz seria atividade obrigatória assim que decidimos rumar à Polónia. Agora sei que tomamos a decisão correta. Nenhuma viagem a este país fica completa sem uma paragem no local que representa um dos capítulos mais vergonhosos e negros da história da humanidade. Um capítulo que não deverá nunca ser silenciado ou esquecido.
Ao visitar Auschwitz terás acesso a dois campos distintos, Auschwitz I e Birkenau, sendo que o primeiro foi designado como campo de trabalhos forçados e o segundo como campo de extermínio em massa.
VISITAR AUSCHWITZ – COMO LÁ CHEGAR
Se quiseres tratar do transporte antes da tua partida para a Polónia, então vale a pena dar uma vista de olhos nas Visitas Guiadas disponíveis a partir de Cracóvia. Ainda assim, aqui tens como lá chegar utilizando os transportes públicos:
A partir de Cracóvia – recomendamos que vás de autocarro. Dentro da Estação Central de Cracóvia (Krakow Glowny), para além da estação de comboios, tens ainda um grande terminal de autocarros. Tudo o que tens que fazer é verificar o painel eletrónico onde estão listadas as chegadas e partidas e procurar quais os autocarros a seguir em direção a Oswiecim (Auschwitz é o nome alemão dado à cidade). Se mesmo assim tiveres dificuldades em encontrar o veículo correto, basta perguntares no balcão de atendimento mais próximo e alguém te irá indicar a que plataforma te deves dirigir. O preço dos bilhetes pode variar entre os 8zl e os 12zl, dependendo da empresa de transporte, e a viagem durará cerca de 90 minutos, sendo que te deixarão diretamente na entrada do campo Auschwitz I.
Entre Auschwitz I e Birkenau – os dois campos estão a cerca de 3,5km de distância, mas a própria organização do campo disponibiliza shuttles gratuitos para transportarem os visitantes entre as duas áreas. Estes autocarros passam de 15 e 15 minutos na época alta, ou de 30 em 30 minutos em época baixa.
BILHETES PARA VISITAR AUSCHWITZ
A entrada no campo de concentração é gratuita se escolheres uma visita não guiada, mas tem em atenção que podem não te conceder entrada na época alta, uma vez que os visitantes pagantes têm prioridade.
Seja como for, tenho definitivamente que recomendar a visita guiada se quiseres verdadeiramente entender Auschwitz. As visitas guiadas em língua inglesa têm uma duração de cerca de 3h30 e os preços são os seguintes:
- Normal: 50zl
- Reduzido: 45zl (estudantes até aos 26 anos)
PONTOS DE INTERESSE EM AUSCHWITZ I
O FAMOSO PORTÃO
Assim que te aproximas do icónico portão principal de Auschwitz por entre o ambiente sombrio, silencioso e cinzento das redondezas, as palavras saltam à vista. “ARBEIT MACHT FREI”, expressão alemã para algo como “O Trabalho Liberta”, ou “O Trabalho Tornar-te-á Livre”, palavras vazias que se tornaram uma representação do terror vivido por todos os prisioneiros do campo e que não significavam absolutamente nada. A máquina Nazi limitou-se a tentar criar escravos mais eficientes se acreditassem que poderiam obter a sua liberdade através do trabalho e da obediência, mas a realidade é que só havia uma forma de sair de Auschwitz.
CÂMARA DE GÁS
Um dos locais mais intensos do campo, é necessária uma certa coragem para seguir o guia e entrar dentro de uma câmara de gás, uma estrutura com uma conotação pesadíssima. O cérebro prega partidas, e mesmo sabendo que esta câmara é uma reconstituição fiel dos modelos reais, eu juro que quase conseguia ver as marcas de sofrimentos marcadas nas suas paredes. No interior da câmara, mas numa sala à parte, irás também encontrar uma reconstrução dos fornos utilizados pelos Nazis para queimar os corpos e assim apagar as evidências do massacre.
PERTENCES DAS VÍTIMAS
Nesta secção do campo terás a oportunidade de entrar no edifício onde foram guardados alguns dos pertences que eram retirados aos prisioneiros assim que chegavam a Auschwitz. Este é um dos cenários mais chocantes com o qual te iras confrontar na tua visita, uma vez que poderás ver objetos autênticos que te lembrarão que as vítimas são bem mais do que um número, e que por detrás de cada peça exposta estava uma pessoa de carne e osso. Por entre roupas, objetos pessoais, próteses e malas, vais ainda encontrar um expositor enorme completamente atolado com os cabelos que eram cortados aos prisioneiros, e que eram depois utilizados para fabricar tecido.
BLOCO 11
A repressão e a morte eram traços presentes no quotidiano de Auschwitz, mas no Bloco 11 as autoridades conseguiam elevar ainda mais o nível de demência ao torturar as vítimas que mantinham cativas. Os prisioneiros ficavam fechados em celas deste bloco durante dias, onde eram depois submetidos a todo o tipo de castigos físicos e psicológicos. Foi também aqui que testaram pela primeira vez em pessoas o Zyklon B, a substância que viria mais tarde a ser usada nas câmaras de gás.
PAREDE DE FUZILAMENTO
Outro dos locais mais pesados de Auschwitz, a parede de fuzilamento era o local predileto para execuções a tiro por parte dos oficiais Nazis. Sempre que fosse necessário fazer de um prisioneiro um exemplo para instigar o medo e a opressão nos restantes, o esquadrão de tiro entrava em ação e alinhava as vítimas nesta parede antes de as assassinar a sangue frio.
PONTOS DE INTERESSE EM AUSCHWITZ II – BIRKENAU
ENTRADA PRINCIPAL DE BIRKENAU
Tão representada em filmes, séries, documentários e livros, a famosa entrada principal do campo de Birkenau é um daqueles sítios capaz de te levar às lágrimas quando decidires visitar Auschwitz. É absolutamente aterrador e até a própria natureza à sua volta parece reconhecê-lo, com uma atmosfera pura e simplesmente vazia, especialmente no Inverno.
APOSENTOS DOS PRISIONEIROS
Não me posso propriamente referir aos aposentos dos prisioneiros como casas. São construções decrépitas em madeira. Frias, sobrelotadas à época, e sem quaisquer condições mínimas que permitissem uma vida com a mínima dignidade, especialmente durante o gelado Inverno polaco. Vais poder entrar nestas estruturas e ver em primeira mão onde os prisioneiros dormiam. Prepara-te para o pior, pois não é fácil imaginar alguém a ter que viver sob tais condições.
A LINHA DE COMBOIO
Uma das razões pelas quais a entrada de Birkenau é tão assustadora, está relacionada com a linha de comboio que a atravessa. Sabemos que a esmagadora maioria dos prisioneiros chegava a Auschwitz desta forma, e mais à frente irás mesmo encontrar uma carruagem exatamente igual àquelas que eram utilizadas no transporte destas pessoas. Estas carruagens chegavam ao destino após percorrerem grandes distâncias e as vítimas que transportavam eram obrigadas a fazer a viagem em condições sub-humanas, num espaço sobrelotado e sem fornecimento de comida ou água. Algumas destas viagens eram tão duras que vários prisioneiros já chegavam ao campo mortos. Uma vez chegados a Auschwitz, os oficiais Nazis decidiam quem sobrevivia, enviando para áreas diferentes do campo famílias inteiras que nunca mais se viriam a reunir.
DESTROÇOS DAS CÂMARAS DE GÁS
Quando os Nazis se aperceberam que a Alemanha iria mesmo perder a guerra, tentaram apagar as derradeiras provas dos seus crimes ao destruir as restantes câmaras de gás de Birkenau. Contudo os destroços foram mentidos no campo para que todos possam ver o que restou.
MONUMENTO INTERNACIONAL ÀS VÍTIMAS DE AUSCHWITZ
Para terminar, poderás prestar homenagem às vítimas deste indescritível crime de guerra no memorial construído propositadamente para o efeito. O monumento em si é de interpretação livre e o que cada um vê é bastante subjetivo, mas o que realmente importa é a mensagem única escrita nas 22 línguas dos países de onde as vítimas deportadas eram oriundas (de onde, felizmente, não figura a língua Portuguesa), as línguas maternas daqueles cujas vidas vieram a acabar abruptamente num dos locais mais aterradores do planeta.
DICAS PARA VISITAR AUSCHWITZ
1.Vai ser um dia de emoções fortes e, dependendo da tua sensibilidade, poderás não te sentir na plenitude das tuas capacidades no final da visita. Assim sendo, recomendo que não planeies nada para o resto do teu dia e que reserves esse tempo para te dedicares apenas a visitar Auschwitz.
2. Se quiseres tirar o máximo partido da tua visita, volto a frisar que deves optar pelo tour guiado. O preço é acessível e garante-te uma experiência completa, com uma visita a todos os espaços importantes do campo e um conjunto de outras informações e histórias que te ajudarão a compreender o que se passou neste sítio. Para além disso, tenta chegar ao campo o mais cedo possível para que os lugares nos tours não esgotem.
3. Não te esqueças que estás a visitar um lugar que foi um autêntico inferno na Terra para milhões de pessoas. Não é uma réplica ou uma representação, é um local real e que representa o sofrimento e a morte de inúmeras vítimas. Vais ver os seus rostos, as suas roupas e os seus pertences, e vais ouvir algumas das suas histórias. Vais entrar em salas onde estas pessoas foram deixadas para morrer – à fome e ao frio – nuas, esfomeadas e humilhadas. Vais poder ver e sentir as cicatrizes que devem ter deixado dentro das câmaras de gás enquanto morriam em pânico e agonia. E tudo isto aconteceu há apenas 70 anos, o que significa que ainda nem passou um século desde que a raça humana conseguiu levar a cabo uma atrocidade de tão grande escala. Por isto, e por muito mais, a minha maior dica é que não sejas indiferente ao visitar Auschwitz.
Já alguma vez foste visitar Auschwitz? Também chegaste lá a partir de Cracóvia? O que sentiste? Deixa a tua opinião nos comentários abaixo!
